Marielle presente!
No dia 14 de março de 2019, completou-se um ano do trágico assassinato de Marielle Franco e o motorista Anderson. Neste mesmo dia, fui convidada para compor uma mesa num evento de jornalismo, reunindo estudantes da Ufal e da Unit. Não podia de prestar uma homenagem à Marielle. Segue o discurso pronunciado no evento Intercomunica:
Antes de entrar no tema “Descentralização da Comunicação: desafios e perspectivas para o cenário alagoano”, peço licença a mesa e ao público para registrar que hoje, 14 de março de 2019, completa-se um ano dos assassinatos de Marielle Franco e Anderson.

Marielle foi atingida por três tiros na cabeça e um no pescoço. O motorista Anderson levou três tiros nas costas. A execução aconteceu por volta de 21 horas quando a vereadora voltava de uma atividade na Lapa, no Rio de Janeiro.
Da mesma forma como a juíza Patrícia Acioli, que em 2011 também foi fuzilada, Marielle Franco ousou enfrentar e denunciar as milícias organizadas no Rio de Janeiro apoiadas por políticos. Dois dos homens que participaram do crime foram presos nesta segunda-feira. Resta saber, e a sociedade precisa cobrar, quem são os mandantes.
Jornalistas que cobrem o caso, como Chico Otávio, Vera Araújo e Arthur Leal, de O Globo, são ameaçados ou difamados por pessoas que querem desmerecer ou desqualificar o trabalho da imprensa e destacarem como fonte confiável as fakenews dos grupos de família.
Aliás, os dias que vivemos são tão nebulosos e confusos que a repórter Constança Rezende, do jornal O Estado de S. Paulo, foi vítima de um linchamento público no twitter, na noite do último domingo, por conta da veiculação de notícia falsa segundo a qual ela teria admitido a um jornal francês que o objetivo dela é arruinar o governo de Bolsonaro. A notícia foi desmentida pelo jornal francês que prestou solidariedade à jornalista. A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) também emitiram nota repudiando a tentativa de intimidação da jornalista e os ataques cibernéticos liderados pelo próprio presidente Bolsonaro e seus seguidores.
Por outro lado, o atual presidente afirmou ser fakenews a notícia publicada na Folha de São Paulo, nesta segunda-feira, informando que o coronel Dídio Campos foi nomeado para conduzir as mídias digitais do Palácio, quando a portaria estava publicada no Diário Oficial da União. Até então, o Diário oficial é… uma fonte oficial das ações do Governo.
Alagoas
Entrando no cenário alagoano, os desafios não são menores. Quem, como eu, está há mais tempo no jornalismo, sabe o que foi na década de 90 cobrir casos como o assassinato de PC Farias, a Gangue Fardada, o assassinato do fiscal de renda, Sílvio Viana, o assassinato de Ceci Cunha…
A corrupção e a violência nas instituições corroem o tecido social e colocam em xeque a capacidade do Estado de mediar os conflitos e atender aos anseios dos cidadãos por segurança e vida digna. Isso nos afeta a todos.
Nesta situação, a profissão de jornalista, aqui em Alagoas, assim como em todo o Brasil e no mundo, exige coragem e compromisso social. Em meio a essa guerra de contra-informação, que visa confundir a sociedade com a descaracterização das fontes jornalísticas e imprimir uma desconfiança geral em tudo e todos, que visa encobrir com uma cortina de fumaça os verdadeiros responsáveis por ações ilegais e danosas à nação, é preciso mais do que nunca investigar, apurar e denunciar corajosamente os fatos.
Com a pulverização de meios de comunicação na internet, é cada vez mais difícil checar de onde são originadas as informações que circulam e se difundem exponencialmente. Pesquisadores da área de Comunicação estão se debruçando sobre o impacto das fakenews no jornalismo.
Nas redações alagoanas, assim como no restante do país, o impacto da descentralização da comunicação, das fakenews, da desqualificação do jornalismo, somados ao fim da exigência de diploma de jornalismo e a precarização das relações de trabalho imposta pela “reforma trabalhista” é arrasadora. Demissões em massa, contratações temporárias, pagamento de salários abaixo do piso, ameaças, censura, tudo isso faz parte da nossa difícil realidade…
A saída? Assuntos complexos não têm soluções fáceis
Mas por conhecimento histórico e experiência própria, o caminho é sempre uma construção coletiva. Ou seja, precisamos fortalecer as nossas representações classistas, como o Sindjornal e a federação dos jornalistas, a Associação dos Jornalistas Investigativos - Abraji. É imperativo, neste momento estarmos sindicalizados e atuantes.
Também é preciso fortalecer nosso compromisso ético com a verdade e com a comunicação como direito social e não para interesses de grupos econômicos e políticos. A democratização dos meios de comunicação tem que ser acompanhada do controle social e garantia de qualidade da informação.
Para finalizar, um jornalista nunca pode perder a capacidade de se indignar. Como dizia o poeta e dramaturgo alemão, Bertold Brecht:
"Nós vos pedimos com insistência: Nunca digam - Isso é natural! Diante dos acontecimentos de cada dia, Numa época em que corre o sangue Em que o arbitrário tem força de lei, Em que a humanidade se desumaniza Não digam nunca: Isso é natural A fim de que nada passe por imutável."
Antes de entrar no tema “Descentralização da Comunicação: desafios e perspectivas para o cenário alagoano”, peço licença a mesa e ao público para registrar que hoje, 14 de março de 2019, completa-se um ano dos assassinatos de Marielle Franco e Anderson.

Marielle foi atingida por três tiros na cabeça e um no pescoço. O motorista Anderson levou três tiros nas costas. A execução aconteceu por volta de 21 horas quando a vereadora voltava de uma atividade na Lapa, no Rio de Janeiro.
Da mesma forma como a juíza Patrícia Acioli, que em 2011 também foi fuzilada, Marielle Franco ousou enfrentar e denunciar as milícias organizadas no Rio de Janeiro apoiadas por políticos. Dois dos homens que participaram do crime foram presos nesta segunda-feira. Resta saber, e a sociedade precisa cobrar, quem são os mandantes.
Jornalistas que cobrem o caso, como Chico Otávio, Vera Araújo e Arthur Leal, de O Globo, são ameaçados ou difamados por pessoas que querem desmerecer ou desqualificar o trabalho da imprensa e destacarem como fonte confiável as fakenews dos grupos de família.
Aliás, os dias que vivemos são tão nebulosos e confusos que a repórter Constança Rezende, do jornal O Estado de S. Paulo, foi vítima de um linchamento público no twitter, na noite do último domingo, por conta da veiculação de notícia falsa segundo a qual ela teria admitido a um jornal francês que o objetivo dela é arruinar o governo de Bolsonaro. A notícia foi desmentida pelo jornal francês que prestou solidariedade à jornalista. A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) também emitiram nota repudiando a tentativa de intimidação da jornalista e os ataques cibernéticos liderados pelo próprio presidente Bolsonaro e seus seguidores.
Por outro lado, o atual presidente afirmou ser fakenews a notícia publicada na Folha de São Paulo, nesta segunda-feira, informando que o coronel Dídio Campos foi nomeado para conduzir as mídias digitais do Palácio, quando a portaria estava publicada no Diário Oficial da União. Até então, o Diário oficial é… uma fonte oficial das ações do Governo.
Alagoas
Entrando no cenário alagoano, os desafios não são menores. Quem, como eu, está há mais tempo no jornalismo, sabe o que foi na década de 90 cobrir casos como o assassinato de PC Farias, a Gangue Fardada, o assassinato do fiscal de renda, Sílvio Viana, o assassinato de Ceci Cunha…
A corrupção e a violência nas instituições corroem o tecido social e colocam em xeque a capacidade do Estado de mediar os conflitos e atender aos anseios dos cidadãos por segurança e vida digna. Isso nos afeta a todos.
Nesta situação, a profissão de jornalista, aqui em Alagoas, assim como em todo o Brasil e no mundo, exige coragem e compromisso social. Em meio a essa guerra de contra-informação, que visa confundir a sociedade com a descaracterização das fontes jornalísticas e imprimir uma desconfiança geral em tudo e todos, que visa encobrir com uma cortina de fumaça os verdadeiros responsáveis por ações ilegais e danosas à nação, é preciso mais do que nunca investigar, apurar e denunciar corajosamente os fatos.
Com a pulverização de meios de comunicação na internet, é cada vez mais difícil checar de onde são originadas as informações que circulam e se difundem exponencialmente. Pesquisadores da área de Comunicação estão se debruçando sobre o impacto das fakenews no jornalismo.
Nas redações alagoanas, assim como no restante do país, o impacto da descentralização da comunicação, das fakenews, da desqualificação do jornalismo, somados ao fim da exigência de diploma de jornalismo e a precarização das relações de trabalho imposta pela “reforma trabalhista” é arrasadora. Demissões em massa, contratações temporárias, pagamento de salários abaixo do piso, ameaças, censura, tudo isso faz parte da nossa difícil realidade…
A saída? Assuntos complexos não têm soluções fáceis
Mas por conhecimento histórico e experiência própria, o caminho é sempre uma construção coletiva. Ou seja, precisamos fortalecer as nossas representações classistas, como o Sindjornal e a federação dos jornalistas, a Associação dos Jornalistas Investigativos - Abraji. É imperativo, neste momento estarmos sindicalizados e atuantes.
Também é preciso fortalecer nosso compromisso ético com a verdade e com a comunicação como direito social e não para interesses de grupos econômicos e políticos. A democratização dos meios de comunicação tem que ser acompanhada do controle social e garantia de qualidade da informação.
Para finalizar, um jornalista nunca pode perder a capacidade de se indignar. Como dizia o poeta e dramaturgo alemão, Bertold Brecht:
"Nós vos pedimos com insistência: Nunca digam - Isso é natural! Diante dos acontecimentos de cada dia, Numa época em que corre o sangue Em que o arbitrário tem força de lei, Em que a humanidade se desumaniza Não digam nunca: Isso é natural A fim de que nada passe por imutável."
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