Rapaz aprovado na Ufal quer sair da cadeia para estudar

Ricardo Gomes de Araújo teve a chance que centenas de jovens queriam: foi aprovado no vestibular da Universidade Federal de Alagoas, para o curso de Administração, turno noturno. O problema é que o rapaz de 19 anos está preso por assalto a mão armada e aguarda a decisão da Justiça sobre o caso.

Essa história foi tema de uma ótima matéria da repórter Carla Serqueira, da Gazeta de Alagoas, e ganhou duas páginas da edição deste domingo. Merecido destaque, já que o caso remete a uma reflexão ampla sobre a situação dos jovens num contexto social para lá de adverso. Alagoas, ano passado, entrou no ranking do Ministério da Justiça como a capital brasileira com maior índice de assassinatos vitimando jovens de 18 a 29 anos.

Estamos lutando contra o crack, o desemprego, a falta de oportunidades, os baixos índices de desenvolvimento humano que ainda assolam o povo alagoano. A situação econômica dá sinais de que começa a melhorar e a depender menos de um único setor, mas ainda não é o suficiente para garantir melhores condições de vida para a população que luta para sair da linha de pobreza.

E não é só uma questão econômica, é um problema de falta de perspectiva também, já que mesmo jovens da classe média estão se envolvendo com o tráfico de drogas. Uma questão social séria, que não pode ser resolvida responsabilizando apenas as familias desses jovens, que se esforçam, mas muitas vezes estão impotentes para enfrentar uma situação tão complexa. Ainda mais em Alagoas, onde nem mesmo existem centros de recuperação suficientes para auxiliar familias de dependentes químicos.

O caso do Ricardo não parece estar relacionado com drogas, mas com a péssima idéia de conseguir um dinheiro "fácil" roubando uma moto numa feira de bairro. Por conta disso, o rapaz acabou perseguido pela polícia, foi baleado na perna e preso. Nessa parte, a matéria da Carla consegue passar para o leitor o choque da familia com o episódio surpreendente:

"Era por volta de 17 horas quando veio a notícia jamais esperada. O telefone toca e dona Selma atende. 'a senhora pode vir até a delegacia? Seu filho está baleado'. Para a mãe, o chão desapareceu. Para o pai não podia haver pior desgraça."

A expectativa agora é se esse rapaz vai conseguir fazer a matrícula, hoje à noite, (isso alguém pode fazer por ele, por procuração) e principalmente se vai conseguir cursar, a partir do dia 22 de fevereiro. A intendência penitenciária já disse que não tem como enviar escolta diariamente, caso ele continue preso. Na Ufal já informaram que não há condições de deslocar professores para que ele tenha aulas na cadeia.

A chance do Ricardo, que é réu primário, é convencer a Justiça de que ele pode ser liberado, sem representar riscos para a sociedade. O rapaz está preso na Casa de Detenção Provisória de Maceió desde outubro do ano passado. Ele fez as provas, durante quatro dias, no final do ano passado, com autorização da juíza Lorena Sotto Mayor, numa sala separada e escoltado. Não deve ter sido nada fácil para esse rapaz passar por esse constrangimento, mas são consequências da atitude dele...

Agora, espero sinceramente, que, primeiro, alguém confirme a matrícula dele hoje à noite, porque do contrário ele perde a vaga. Segundo, que ele consiga a liberdade provisória e possa cursar a faculdade. Terceiro, que ele seja absolvido no processo, e possa ouvir, no fundo do coração, as palavras que Jesus disse para Madalena: "vai em paz e não tornes a pecar"...


Não é só por ele, nem o conheço. Mas é por todos nós. Para que não tenhamos sempre a sensação de que estamos perdendo nossos jovens para o crime. Perdemos muitos, estamos precisando de algumas vitórias. Porque uma situação trágica como essa, qualquer um de nós, pais e mães, está correndo o risco de vivenciar. E nenhum de nós vai querer enfrentar isso sozinho...


foto: Gazeta de Alagoas

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